segunda-feira, 29 de março de 2010
Semana Santa
A última ceia
Jesus despede-Se dos seus amigos durante a celebração da ceia pascal
JERUSALÉM. Foi no decurso de ceia pascal, festa em que os judeus celebram a libertação do Egipto, que Jesus de Nazaré Se despediu dos Seus amigos. Tratou-se de um momento muito íntimo. Jesus deixou aos discípulos o Pão e o Vinho, como símbolos da Sua presença no seio da comunidade. No princípio da Ceia, Jesus lavou os pés aos discípulos, dando-lhes um exemplo de humildade e fraternidade.
Esta ceia teve lugar na véspera da Páscoa, num local secreto da cidade de Jerusalém. Todos os discípulos do Mestre de Nazaré mantiveram em segredo a sua localização, bem como a preparação e celebração da ceia, pois os Sumos-sacerdotes do Templo procuravam Jesus para O entregarem à sua morte.
A Páscoa judia constitui a evolução de um antiquíssimo ritual celebrado por tribos hebraicas nómadas antes da permanência no Egipto. Estas tribos habitavam zonas desérticas e, quando se deslocavam para um oásis diferente, sacrificavam ritualmente um cordeiro, numa tentativa de assegurar a fertilidade dos seus rebanhos no futuro. Com o sangue do cordeiro sacrificado, pintavam o pau da tenda em que habitavam. Com o passar do tempo, o cordeiro pascal tornou-se símbolo de um ser inocente que se oferece em sacrifício, para perdão dos pecados e início de um tempo novo.
No decurso da Última Ceia não se menciona o cordeiro, elemento central desta refeição. De acordo com fontes fidedignas, o motivo desta omissão reside na própria situação vivida por Jesus de Nazaré, consciente de que, a qualquer momento, se fechará o cerco que as autoridades apertam à Sua volta, e de que deverá entregar a vida.
Segundo parece, durante a ceia Jesus ofereceu-Se a Si mesmo em substituição do cordeiro. É este, também, o motivo por que os discípulos se referem a Jesus como “o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
Na Última Ceia de Jesus reside também a origem de um sinal sagrado, a que os discípulos começam a chamar “a ceia do Senhor” ou “eucaristia”. Os seguidores de Jesus presentes nesta ocasião tiveram consciência da importância do momento que viveram junto ao Senhor.
Jesus lava os pés aos Seus amigos
Com um gesto invulgar, Jesus ensina aos Seus discípulos uma nova forma de relacionamento pessoal
JERUSALÉM. Jesus surpreendeu os Seus discípulos lavando-lhes os pés no início da Última Ceia. Todos os apóstolos ficaram muito surpreendidos com esta atitude do Senhor, pois tratava-se de uma tarefa que, normalmente, cabia aos escravos, nunca ao chefe de família ou ao líder de um grupo religioso. Este gesto tão pouco comum foi relatado por um discípulo chamado João. Segundo os especialistas, João achou necessário registar este momento tão importante para que o mesmo não caísse no esquecimento.
De acordo com o relato de João, um dos discípulos mais influentes, Jesus quebrou a tradição para oferecer aos Seus seguidores um ensinamento acerca do comportamento e forma de relacionamento interpessoal que devia imperar no seio da comunidade de crentes: quem quiser ser o mais importante, que se converta em servo dos outros.
Lavar os pés era um gesto comum em todo o Médio Oriente por causa do clima, da natureza do solo e do estado dos caminhos, tendo-se convertido numa das regras fundamentais da hospitalidade. Inspirada por necessidades higiénicas, esta actividade transformar-se-ia num rito purificador, praticado não só pelos sacerdotes do Templo, mas pela generalidade do povo.
As normas permitiam que a esposa e os filhos lavassem os pés ao pai e marido, como símbolo de afecto e respeito. No entanto, lavar os pés era, habitualmente, uma actividade reservada aos escravos.
João contou pormenorizadamente como Jesus, ontem, Se levantou da mesa para lavar, Ele mesmo, os pés aos apóstolos.
Estes admiraram-se muito pelo facto de Jesus “Se despojar do manto” (símbolo de autoridade) e “pegar na toalha” (símbolo de servidão): Jesus assumia as atitudes e tarefas dos escravos menos considerados.
Para muitos especialistas, existe uma ligação importante entre o gesto de lavar os pés aos apóstolos e esse outro de oferecer o pão e o vinho. Ambos são considerados como integrando um gesto único de humildade, serviço e entrega.
Jesus indica que o serviço dos outros e a entrega se devem transformar, no futuro, numa das características fundamentais dos discípulos de Jesus.
Oração no Horto das Oliveiras
No Monte das Oliveiras, Jesus ora enquanto os discípulos dormitam
VALE DO CÉDRON (Jerusalém). Terminada a ceia pascal, Jesus dirigiu-se com os discípulos à ladeira do Monte das Oliveiras. Ali, rezou intensamente enquanto alguns dos Seus apóstolos dormitavam. Testemunhas presenciais falam da profunda preocupação que o rosto de Jesus espelhava. Todos os indícios apontam para o facto desta preocupação se dever ao cerco policial que os fariseus e os partidários de Herodes moviam a Jesus.
Segundo o que se pôde apurar, depois de terminada a ceia, Jesus foi com os apóstolos até um lugar chamado Getsémani. Este local situa-se no vale do rio Cedrón, aos pés do Monte das Oliveiras. “Getsémani” significa “moinho ou engenho de azeite” e, também, “lagar de azeite”. Nesta propriedade agrícola existe uma gruta, com cerca de 17 metros de profundidade, que alberga o importante lagar utilizado para extrair o azeite das numerosas azeitonas que o Monte das Oliveiras produz.
As grandes oliveiras centenárias são parte integrante da paisagem deste monte, situado nas imediações de Jerusalém e possuidor de uma grande carga emblemática. Segundo o Antigo Testamento, o Messias irá até Jerusalém descendo pelo Monte das Oliveiras.
Lucas relatou no evangelho como Jesus se prostrou em oração. Face ao rumor de que o Senhor, sentindo a morte próxima, “suou sangue”, Lucas esclareceu, também, que esta expressão não deve ser encarada literalmente, procurando para o facto estranhas justificações científicas… Trata-se, antes, de uma expressão simbólica, de uso frequente na linguagem oriental. A intenção do discípulo foi realçar o profundo significado religioso da situação: Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, mas não de um Deus Todo-Poderoso, que domina pelo poder e pela força; este é um Deus humilde e simples, capaz de sofrer com a dor que assola os mais desvalidos do mundo.
Testemunhos presenciais atestam que os apóstolos não tiveram forças para permanecerem acordados e orando, como Jesus lhes havia pedido. A origem desta sonolência deve ser procurada nos três últimos copos de vinho ritual bebidos durante a Última Ceia, enquanto recitavam os salmos do Hallel, salmos de alegria e louvor.
Judas trai Jesus
A denúncia de Judas Iscariotes, vital para a prisão de Jesus
MONTE DAS OLIVEIRAS (Jerusalém). Uma força composta por cerca de cem polícias do Sumo-sacerdote de Jerusalém e soldados romanos prendeu Jesus. Todos os indícios apontam Judas Iscariotes como o traidor que forneceu às forças da ordem a informação sobre o local para onde tinha ido Jesus de Nazaré, após a última ceia. O profeta da Galileia evidenciou grande serenidade no momento da detenção.
Perante o cariz que os acontecimentos assumem, impõem-se numerosas perguntas.
Por que motivo foram buscar Jesus ao Monte das Oliveiras? Segundo informações de várias fontes, o Sinédrio considera Jesus um dos agitadores que aproveitavam a grande afluência de pessoas para as festas da Páscoa para provocar um levantamento popular. A ida de Jesus ao Monte das Oliveiras foi considerada, pelas autoridades civis e religiosas, como uma marcha em direcção ao local da concentração dos revoltosos. Algumas profecias indicam que o Messias surgirá do Monte das Oliveiras.
Quem acompanhou Judas ao Monte das Oliveiras? Mateus, o evangelista, refere que Judas foi até ali “acompanhado de um grande tropel de gente, armada de bastões e espadas”. Estas palavras permitem inferir que foi prender Jesus parte da polícia judia dependente do Sumo-sacerdote, a qual utilizava “bastões” no seu equipamento habitual. A referência a “espadas”indica que da força policial fazia também parte a guarda romana, que, naquele tempo, se encontrava em Jerusalém para manter a ordem.
Judas utilizou, como sinal da denúncia, a saudação habitual: um beijo fraterno, acompanhado da palavra hebraica “shalom”, que significa “paz”.
Jesus conservou sempre o domínio da situação, surpreendendo os polícias que O procuravam, ao afirmar: “Sou Eu” (“Ani-hu”, em hebraico), palavras com as quais o povo de Israel define Deus.
De acordo com informações adicionais fornecidas por Mateus, Judas vendeu Jesus por “trinta moedas de prata”. Esta informação, que carece de confirmação de outras fontes, possui uma finalidade religiosa: pretende comparar Jesus de Nazaré com patriarca José, a quem os irmãos venderam por “vinte” moedas. Para os evangelistas, Jesus é mais importante que José, por isso elevam o preço em dez moedas.
Jesus perante o Sinédrio
O Sumo-sacerdote inicia um processo urgente contra Jesus
JERUSALÉM. Depois de detido, Jesus foi levado para as dependências do Sumo-sacerdote, onde começou a ser julgado num processo desprovido de garantias legais. O Mestre de Nazaré, no entanto, mostrou-Se calmo em todos os momentos, permanecendo sempre em silêncio.
Jesus foi detido à meia-noite e conduzido à presença de Anás, ancião muito influente. Segundo parece, Caifás (Sumo Sacerdote) quis dar uma prova de respeito ao seu sogro Anás, que era a pessoa de maior prestígio e poder em toda a Jerusalém.
Enquanto Jesus Se apresentava perante Anás, o Sinédrio reunia de urgência no palácio privado de Caifás. Normalmente, as sessões do Sinédrio tinham lugar em instalações próprias, situadas nas imediações do Templo. Contudo, efectuando o interrogatório no palácio do Sumo Sacerdote Caifás, a polícia evitava ter de conduzir Jesus através do recinto do Templo, profusamente iluminado e repleto de galileus e simpatizantes do Mestre de Nazaré. Desta forma, as autoridades evitavam possíveis perturbações da ordem pública.
Os polícias judeus que detiveram Jesus permaneceram no átrio da casa de Caifás durante o interrogatório. Enquanto o prisioneiro comparecia perante o Sinédrio e os Sumos-Sacerdotes, os guardas aqueciam-se à roda de grandes braseiros de barro, onde o fogo ardeu toda a noite. Pedro apareceu por ali sem que ninguém soubesse quem era.
As questões colocadas por Caifás a Jesus não são, todavia, conhecidas. Sabe-se somente que Jesus foi interrogado, em termos gerais, sobre “os Seus discípulos e a Sua doutrina”. A tudo, Jesus respondeu: “Falei em público a toda a gente…”.
O Senhor respondeu ao interrogatório de maneira aberta e resoluta, ao invés do que costumava acontecer quando alguém comparecia perante o Sinédrio. A coragem e integridade de Jesus, tão diferentes da profunda submissão normalmente exibida pelos detidos, ter-lhe-ão valido uma bofetada de um dos ajudantes do tribunal: “É assim que respondes ao Sumo-Sacerdote?”.
Pedro nega Jesus
O principal seguidor de Jesus nega qualquer relação com o acusado
JERUSALÉM. Depois da detenção de Jesus, os Seus discípulos dispersaram-se pelas vielas estreitas de Jerusalém. De acordo com testemunhas presenciais, o único que procurou seguir o desenrolar dos acontecimentos, Simão Pedro, negou qualquer relação pessoal com o prisioneiro.
A comparência de Jesus perante o Sumo-Sacerdote teve lugar entre a meia-noite e as quatro da madrugada. Pedro foi até ao local incógnito, envolto no seu manto de lã, e, enquanto decorria o interrogatório, permaneceu de pé junto a um dos fogos que ardiam nos braseiros de barro colocados diante dos pórticos da casa de Caifás, o Sumo-Sacerdote.
A certa altura, começaram a suspeitar de Pedro. Vários elementos da guarda de Caifás acusaram-no de ser seguidor de Jesus. Pedro, no entanto, negou, mas ao falar foi denunciado pelo seu sotaque galileu, caracterizado por pronunciar as palavras pela metade e articular depressa. Apesar de ter permanecido junto do Senhor toda a noite, Pedro não teve coragem de se declarar discípulo d’Ele, e por três vezes negou conhecer o Mestre.
Mateus afirmou:”Depois de Pedro ter negado o Senhor três vezes, o galo cantou, tal como Jesus tinha previsto”. Mateus deu às suas palavras um tom profético, mas dificilmente poderia estar a referir-se ao canto de um galo real. O som que então se escutou no silêncio da noite de Jerusalém deve ter tido origem diferente, pois na cidade santa é proibida a existência de galos, por serem símbolo da divindade solar adorada por algumas seitas pagãs.
A informação fornecida por Mateus deve, antes, ser entendida da seguinte forma:”Antes de se ouvir o toque de trombeta da mudança de guarda dos soldados romanos, ter-Me-ás negado três vezes”. É do conhecimento geral que as mudanças de guarda dos romanos se anunciavam pelo toque de uma espécie de corneta, à qual, em latim, se chama “gallus”. Como Jerusalém era uma cidade ocupada pelos romanos, o mais provável é que Pedro tenha negado Jesus três vezes antes de soar este sinal de mudança de guarda.
Pilatos lava as mãos
O procurador romano não acha indícios de culpa no acusado
JERUSALÉM. O Sinédrio decidiu condenar Jesus por blasfémia. Como não possuía poder legal para efectivar a condenação, remeteram Jesus para o procurador romano, Pôncio Pilatos. De manhã bem cedo, o procurador romano acendeu em receber os membros do Sinédrio, que traziam Jesus como prisioneiro.
Por volta das oito da manhã, o procurador romano recebeu os dirigentes judeus. Por ser véspera da Páscoa, os membros do Sinédrio não quiseram entrar na residência do governador romano, para não se contaminarem pisando o chão de uma casa pagã. Foi Pilatos quem teve de sair ao seu encontro. Os acusadores judeus exigiam a pena capital e Pilatos acolheu-os contrariado. À sua pergunta sobre as acusações contra Jesus, os representantes judeus responderam de forma insolente:”Se não fosse um malfeitor, não To entregaríamos”. Pilatos adoptou, então, um tom irónico: “Levai-O e julgai-O vós segundo a vossa lei”, fazendo-os sentir as limitações da sua jurisdição.
Perante esta tomada de posição inesperada, os membros do Sinédrio procuraram uma acusação que surtisse efeito com o procurador romano, e acusaram Jesus de ser um Messias contra o poder de Roma e de pretender sublevar o povo, para que deixasse de pagar o tributo ao imperador romano.
Face aos gritos e à algazarra dos judeus, Pilatos fez entrar Jesus em sua casa para O interrogar em privado, mas logo após um breve interrogatório ficou convencido de que o detido não representava nenhum perigo para o poder romano.
Fora, no entanto, os judeus continuavam a gritar ao procurador que O condenasse.
De acordo com uma testemunha presencial, ao tomar conhecimento de que Jesus era galileu, Pilatos mandou-O levar a Herodes Antipas, rei da Galileia, que se encontrava em Jerusalém para as celebrações da Páscoa. Depois, a fim de mostrar o seu desacordo com o desenrolar do processo, pediu aos seus servidores um alguidar com água e lavou as mãos em público, descartando, assim, qualquer responsabilidade.
Segundo as informações o procurador reuniu-se com os seus assessores para estudar a possibilidade de dar a escolher, ao povo, entre libertar Barrabás ou libertar Jesus. Deste modo, daria ao Mestre de Nazaré uma última hipótese de ser salvo.
Jesus coroado de espinhos
Depois de um processo à margem da legalidade, Jesus é torturado
JERUSALÉM. Após uma breve passagem pelo palácio de Herodes Antipas, Jesus foi devolvido à jurisdição de Pôncio Pilatos. Fracassadas as tentativas de salvar a vida de Jesus, o procurador romano abandona o acusado às mãos dos dirigentes judeus e dos soldados. Estes iniciam uma longa sessão de torturas e humilhações. Nenhum indivíduo ou organização humanitária saiu em defesa do Mestre de Nazaré, que se viu completamente desamparado em termos humanitários e legais.
Pôncio Pilatos, numa tentativa desesperada de salvar Jesus, que sabia inocente, deu ontem pela manhã ao povo a possibilidade de escolher entre dar a liberdade a Barrabás, conhecido malfeitor com várias condenações pendentes, ou a Jesus. Os membros do Sinédrio, infiltrados na multidão, manipularam a opinião pública no sentido de obterem a liberdade de Barrabás e a condenação de Jesus. Um Pôncio Pilatos covarde abandonou Jesus, entregando-o às mãos dos soldados.
Segundo os testemunhos de pessoas que presenciaram a cena, os soldados torturaram Jesus durante a manhã inteira. Começaram por O vestir com um manto púrpura, peça normalmente envergada pelos líderes guerrilheiros judeus. Enfiaram-lhe na cabeça uma coroa entrançada com ramos de arbustos com grandes espinhos. Sarcásticos e escarninhos, dirigiam-se a Ele como “o rei dos judeus”. E, como se se tratasse de um guerreiro que triunfara no campo de batalha, saudavam-n’O flectindo o joelho, e gritando: “Salve!”. A coroa de espinhos provocava-Lhe sangramento abundante, e o sangue ocultava o Seu rosto. Todos os soldados tomaram parte na farsa, o que foi uma forma de darem largas ao seu ódio pelo orgulho judeu.
Para celebrar a vinda da Primavera, os persas tinham o costume de ir buscar um escravo ou um condenado à morte. Este escravo representava o deus do Inverno que agonizava, e a sua morte traria a chegada da nova Primavera. Vestiam o homem de rei moribundo, colocando-lhe um manto e uma coroa e, na mão, um ceptro. Depois, troçavam dele durante um dia inteiro. Ao fim do dia o escravo ou prisioneiro era executado.
Jesus é açoitado
Continuam as torturas contra o indefeso Jesus de Nazaré
JERUSALÉM. Depois de um processo sem as mínimas garantias legais, Jesus foi abandonado às mãos de carcereiros sírios e samaritanos, que, fervilhando de ódio, torturam Jesus com pancadas, açoites e humilhações.
Um prestigioso advogado, que estuda os acontecimentos desde o início, faz um resumo das torturas às quais tem sido submetido Jesus de Nazaré, sem que, até ao momento, qualquer força política tenha decidido intervir em defesa do acusado.
Estas torturas começaram no pátio da casa do Sumo Sacerdote Caifás, durante a noite. A polícia judaica deve ter achado cómica a pretensão messiânica de Jesus, já que quem Se apresentava perante eles era um homem totalmente desprovido de poder. Um Messias indefeso e desvalido depressa se transforma numa figura ridícula para qualquer judeu que espera a vinda de um Salvador forte e poderoso. Assim, deram rédea solta ao seu desprezo, cuspindo sobre Jesus e dando-Lhe bofetadas e golpes no pescoço e na cabeça.
A seguir, velaram-Lhe o rosto, deitando-Lhe um pano sobre a cabeça (provavelmente, a ponta do próprio manto de Jesus), e pediram-lhe que, “como Messias que era”, adivinhasse quem lhe batia. A concepção popular do Messias vê n’Ele um adivinhador.
Outra das torturas sofridas por Jesus foi a flagelação, castigo ordenado por Pôncio Pilatos numa tentativa para conseguir pôr Jesus em liberdade, mostrando que já O tinha punido. A ordem de Pilatos foi: “Antes de libertá-Lo, açoitai-O!”.
Jesus ficou à mercê de soldados especialistas na aplicação deste castigo cruel.
Os soldados romanos açoitam as suas vítimas sem qualquer moderação. Diz-se que, para esta ocasião, usaram uns terríveis chicotes com pedaços cortantes de chumbo presos às pontas.
A única limitação para a flagelação era não matar a vítima durante a execução da tortura, pois a ordem era para O açoitar antes de O porem em liberdade. Na linha de um costume antigo, Jesus recebeu as chicotadas completamente nu, e, se bem que a flagelação deva realizar-se apenas sobre os ombros e as costas, o ódio dos soldados da Síria e da Samaria estendeu o castigo a todo o corpo de Jesus.
Jesus carrega a cruz
Jesus condenado a morrer na cruz
JERUSALÉM. Por volta do meio-dia, os carrascos de Jesus aceleraram o cumprimento da pena capital por crucificação, à qual Jesus tinha sido condenado. As autoridades permaneceram em silêncio e deixaram os verdugos agir à sua vontade. A notícia da crucificação espalhou-se por toda a Jerusalém, repleta de peregrinos que tinham vindo celebrar a Páscoa. Muitos deles tiveram oportunidade de contemplar o macabro cortejo de morte a caminho do Gólgota.
O processo final da crucificação começou a meio da manhã, com o transporte da cruz. Um piquete de soldados, comandados por um centurião, obrigou Jesus a carregar a trave da cruz até ao lugar onde era habitual fazerem-se as crucificações. Este local fica fora das muralhas da cidade, sobre um pequeno monte onde se encontram as vigas verticais das cruzes. A pequena colina tem o nome hebraico de “Gólgota”, e em latim chama-se “calvário” (lugar do crânio).
O itinerário seguido por Jesus atravessou as ruas mais frequentadas de Jerusalém. Muitos dos habitantes da cidade, assim como centenas de peregrinos que ali se encontravam de passagem, contemplaram os sofrimentos do condenado. Com esta exibição de crueldade e domínio, as autoridades pretenderam dar uma lição ao povo simples, e uma ocasião aos grandes da cidade para troçarem de Jesus. Não obstante, algumas mulheres de Jerusalém não conseguiram reprimir gritos de dor diante de tanto sofrimento. Uma delas, com um pano branco de linho, limpou o sangue e o suor que cobriam o rosto de Jesus.
A meio do caminho, sem forças e desidratado pela perda de tanto sangue, Jesus já tinha deixado cair a cruz diversas vezes. Os soldados obrigaram então um judeu da região de Cirene (Norte de África), que tinha vindo a Jerusalém celebrar a Páscoa, a carregar com a cruz. Simão de Cirene protestou oficialmente perante as autoridades, pois era um judeu com importantes propriedades agrícolas em Cirene e detentor de uma das florescentes indústrias de produção de mel existentes na sua região.
Jesus é pregado na cruz
É consumada a crucificação de Jesus de Nazaré
GÓLGOTA. Chegados ao “lugar do crânio”, os soldados despojaram Jesus das escassas vestes que cobriam o Seu corpo e, deitando-O sobre a cruz, começaram a pregar-Lhe as mãos e os pés. Para evitar que a carne se rasgasse, também Lhe amarraram as mãos e os pés à cruz com cordas.
Vários dos seguidores de Jesus, presentes no local da execução, presenciaram todo o desenrolar da crucificação do Mestre de Nazaré.
Primeiro, deitaram-no sobre a trave áspera da cruz. Jesus não pôde reprimir um leve gemido quando as feridas que as chicotadas tinham aberto nas Suas costas tocaram a superfície da madeira.
A seguir, dois soldados do comando de execução estenderam os braços do condenado na cruz. Outros dois pregaram as Suas mãos na cruz com grossos pregos. Algumas testemunhas afirmam que os soldados também prenderam os Seus membros à cruz com cordas, pormenor que, no entanto, não exerce influência sobre o processo deste tormento. Na crucificação, a morte sobrevém lentamente por asfixia, em virtude da posição do condenado.
Seguindo as prescrições do direito romano, sobre a cabeça de Jesus foi colocada uma tabuleta em que se podia ler, em aramaico, latim e grego, o motivo da condenação:”Jesus de Nazaré, rei dos judeus”.
De acordo com os relatos de uma importante organização humanitária que luta pela abolição da crucificação, os condenados agonizam durante horas e, mesmo, dias inteiros, sucessivamente perdendo e voltando a recobrar a consciência.
A asfixia produz-se muito lentamente. Numa tentativa desesperada para conseguirem respirar, as vítimas apoiam os calcanhares no tronco, elevando o corpo para inspirarem. Como as costas estão em carne viva devido à flagelação, o roçar na madeira rugosa provocado por este movimento produz terríveis dores. O calor, as humilhações, os mosquitos e outros insectos, tudo aumenta a tortura. Esta foi a situação que Jesus viveu durante várias horas.
Segundo parece, alguns discípulos influentes, entre os quais Nicodemos e José de Arimateia, contrataram várias carpideiras para acompanharem o condenado na Sua agonia. Naquela cultura, as carpideiras representavam a voz e o lamento de uma morte digna.
Jesus despede-Se da Sua mãe
Jesus perdoa aos Seus carrascos e despede-Se da Sua mãe
GÓLGOTA. De acordo com testemunhas presenciais, a morte de Jesus foi longa e dolorosa. Os verdugos do Senhor partilharam as Suas roupas jogando aos dados. No meio da Sua dor, Jesus ainda conseguiu ter palavras de perdão para os Seus executores, e antes de morrer despediu-se da Sua mãe, presente aos pés da cruz.
Os soldados, jogaram aos dados, repartiram entre si as roupas de Jesus. Jesus parecia dar cumprimento ao texto do salmo 22, uma antiga oração proclamada por um judeu inocente, injustamente perseguido e condenado:”Repartiram as minhas roupas entre si, e jogaram a minha túnica aos dados”. Os discípulos de Jesus não têm dúvidas em proclamar que Ele é o enviado de Deus para salvação da Humanidade, injustamente perseguido, condenado e morto.
Pese embora os sofrimentos que O atormentavam, e demonstrando uma integridade fora do comum, Jesus conseguiu pronunciar palavras de perdão para aqueles que O tinham condenado injustamente. Depois, dirigiu-Se a Deus Pai, entregando-Se nas Suas mãos. As Suas palavras impressionaram profundamente quem assistia à execução.
Nas imediações da cruz encontravam-se a mãe de Jesus, Maria, o discípulo João e Maria Madalena. De início, não estavam aos pés da cruz, mas entre a multidão que assistia às execuções na base da rocha do Gólgota. Porém, os soldados, fiéis a um arreigado costume de compaixão, permitiram que estas três pessoas íntimas de Jesus subissem ao alto da colina para Lhe dizerem o último adeus.
Na Sua agonia, o Senhor encontrou ainda forças para pensar na Sua mãe. Maria de Nazaré esteve sempre ao lado do filho injustamente condenado a uma morte humilhante pelas autoridades. Temendo que a fidelidade de Maria pudesse vir a impedi-la de beneficiar da “caixa dos pobres” da sinagoga (uma espécie de Caritas daquele tempo), Jesus transferiu os seus direitos de filho para o apóstolo João, ali presente. Dirigindo-se a Maria disse:” Mãe, tens aí o teu filho”. E, a João:”Filho, tens aí a tua mãe”. Através deste procedimento previsto pela lei da altura, colocou Maria sob os cuidados de João, que, a partir daquele momento, passou a desempenhar o papel legal de filho de Maria e a cuidar da sua nova mãe.
Jesus morre na cruz
Os soldados romanos aceleram a morte de Jesus cravando-lhe uma lança no costado
GÓLGOTA. Os soldados começaram a partir as pernas dos crucificados. Com os joelhos quebrados, já não conseguem apoiar o corpo para inspirar, e a asfixia sobrevém rapidamente. Vendo que Jesus já estava morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-lhe os costados com uma lança.
Depois de Se despedir da Sua mãe, Jesus deixou pender a cabeça e expirou pela última vez.
A hora da Sua morte foi por volta das três da tarde, a hora em que se sacrificavam dois cordeiros no Templo para expiação dos pecados do povo. Os discípulos vêem nesta coincidência uma semelhança entre a morte de Jesus e o sacrifício dos animais: os três morrem para libertar os homens dos seus pecados.
Quando os soldados se preparavam para quebrar as pernas de Jesus, verificaram que já estava morto. Então, em vez de lhe quebrarem as pernas, perfuraram o seu flanco com uma lança. Dos costados do Senhor, saiu sangue e água. O significado profundo deste facto: que, do flanco de uma pessoa, brote “sangue e água” significa, na linguagem dos judeus, que essa pessoa era boa e justa. Segundo a crença israelita, o equilíbrio entre sangue e água é sinal de bondade e justiça.
Especialistas explicaram os momentos finais da crucificação:”Trata-se de um tipo de tormento no qual a morte sobrevém por asfixia. Para evitá-la, os condenados fazem um grande esforço para respirar, apoiando os calcanhares sobre o tronco rugoso da cruz. Quando os soldados consideram que a tortura já é suficiente, golpeiam os joelhos dos condenados com um grande maço até os partirem. Com os joelhos partidos, os crucificados já não se podem apoiar para inspirar, e depressa se produz a morte por asfixia”.
Verificada a morte de Jesus, os discípulos começaram a mobilizar-se. Vários deles decidiram ir falar com as autoridades para reclamarem o corpo sem vida de Jesus. Desejam que seja observada a lei judaica, de acordo com a qual um morto deve ser prontamente sepultado. De contrário, os soldados romanos poderiam deixar o cadáver de Jesus pendurado na cruz para ser comido pelos abutres.
Jesus é enterrado num sepulcro novo
Vários dos amigos de Jesus arriscam a vida para Lhe darem um funeral digno
JERUSALÉM. Vários dos amigos de Jesus trataram de pedir as autorizações necessárias para poderem proporcionar-Lhe um enterro digno. As autoridades mostraram-se condescendentes a este propósito. A influência de discípulos como José de Arimateia e Nicodemos foi fundamental para conseguir permissão e agilizar os trâmites.
José de Arimateia, discípulo que se manteve oculto e em silêncio até àquele momento, decidiu então tomar o assunto nas mãos e revelar-se seguidor do Mestre de Nazaré. Foi ele quem assumiu todos os riscos, ao solicitar permissão ao procurador romano para despregar da cruz o corpo sem vida de Jesus e Lhe oferecer uma sepultura digna.
José de Arimateia não só pôs em acção os seus muitos conhecimentos, como cedeu o seu próprio sepulcro, por estrear, para enterrar Jesus. Ao oferecer a sua sepultura ao Mestre, José declarou a sua oposição à condenação de Jesus.
A mãe do Senhor, sobrepondo-se à dor de ver o seu filho morto, acolheu-O no seu regaço, despedindo-se d’Ele pela derradeira vez.
Os discípulos de Jesus prepararam o cadáver para o enterro com esmero, utilizando unguentos e perfumes aromáticos. Ao organizarem um funeral honroso, com perfumes e panos de linho, todos os que intervieram neste processo estão a proclamar que Jesus não é nenhum criminoso. As autoridades judias observam estes preparativos com desconfiança.
Nicodemos, outro dos discípulos que até aí se tinha mantido em silêncio, decidiu tornar pública a sua adesão à doutrina do Mestre. Vencendo o medo, apresentou-se corajosamente com três libras de unguento de grande qualidade para ungir o Senhor. Desta forma, também Nicodemos afirmou que, apesar da humilhante morte a que foi submetido, Jesus é o justo, o Enviado de Deus.
Depois de terminada a preparação do cadáver, Jesus foi sepultado no sepulcro novo de José Arimateia. Este sepulcro escavado na rocha foi depois selado, e a sua abertura tapada com uma grande pedra circular de mais de um metro de diâmetro, que os discípulos fizeram rolar sobre uma fenda. No entanto, após a dor da última despedida, os discípulos mantiveram a sua confiança nas palavras de vida do Mestre.
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