terça-feira, 23 de março de 2010

Domingo de Ramos




Início da Semana Santa, o coração do ano litúrgico.
Hoje começamos com a entrada vitoriosa e aplaudida de Jesus em Jerusalém, num ambiente festivo de Páscoa.
Mas este dia é lusco-fusco, porque é Domingo da Paixão. Se, por um lado, aparece o louvor, por outro, surge a rejeição e a paixão dolorosa.
O Domingo de Ramos é o limiar de uma semana recheada de revelação e de testemunho.
Preparemo-nos para a viver com profundidade: a entrada em Jerusalém, a ceia do Senhor, a sua paixão.

Evangelho Lc 22, 14-23, 56.

(Este Evangelho que narra a paixão de Jesus pode ser proclamada por várias pessoas. Apresento aqui esta narração em forma de Via-Sacra)

1ª Estação

Jesus é julgado por Pilatos

Narrador – Naquele tempo, levantaram-se os anciãos do povo, os sumos-sacerdotes e os escribas e levaram Jesus a Pilatos. Começaram a acusá-lo nestes termos:
Judeus – Encontramos este homem a sublevar o nosso país, a impedir que se desse tributo a César e a dizer-se, Ele próprio, o Messias Rei.
Narrador – Pilatos perguntou-lhe:
Pilatos – Tu és o Rei dos Judeus?
Narrador – Jesus respondeu-lhe:
Jesus – É como dizes.
Narrador – Pilatos disse então aos sumos-sacerdotes e à multidão:
Pilatos – Não encontro nada de culpável neste homem.
Narrador – Mas eles insistiram:
Judeus – Amotina o povo, ensinando por toda a Judeia; começou na Galileia e veio até aqui.
Narrador – Ao ouvir estas palavras, Pilatos perguntou se o homem era galileu. E, ao saber que era da Jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, que também estava em Jerusalém nesses dias.

2ª Estação

Jesus é julgado por Herodes

Narrador – Ao ver Jesus, Herodes ficou muitíssimo satisfeito. Havia bastante tempo que o queria ver, pelo que ouvia dizer dele, e esperava ver algum milagre que ele fizesse. Fez-lhe bastantes perguntas, mas ele não lhe deu qualquer resposta.
Os sumos sacerdotes e os escribas lá estavam a acusá-lo com insistência. Herodes, com os seus oficiais, depois de o ter desprezado e escarnecido, vestiu-lhe uma traje pomposo e remeteu-o a Pilatos.
Herodes e Pilatos ficaram nesse dia amigos um do outro, pois antes eram inimigos.

3ª Estação

Jesus novamente com Pilatos

Narrador – Pilatos convocou os sumos-sacerdotes, os chefes e o povo e disse-lhes:
Pilatos – Trouxestes este homem à minha presença, como agitador do povo. Mas olhai que o interroguei diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes que o acusais. Herodes, aliás, também não, uma vez que o remeteu para nós. Como vedes, não praticou nada que mereça a morte. Vou então soltá-lo, depois de o mandar castigar.
Narrador – Pilatos devia soltar-lhes um preso por ocasião da Festa. E todos começaram a gritar:
Coro – Dá-lhe a morte e solta-nos Barrabás!
Narrador – Barrabás tinha sido metido na cadeia, por causa de uma insurreição que se dera na cidade e por assassino.
De novo, Pilatos lhes dirigiu a palavra, no desejo de libertar Jesus. Mas eles diziam em altos brados:
Coro – Crucifica-o! Crucifica-o!
Narrador – Disse Pilatos pela terceira vez:
Pilatos – Então, que mal fez ele? Nada encontrei nele que mereça a morte. Vou, portanto, soltá-lo, depois de o mandar castigar.
Narrador – Mas eles insistiam em altos brados, pedindo que ele fosse crucificado, e os seus brados aumentavam de violência. Então Pilatos decidiu satisfazer-lhes o pedido: soltou aquele que estava metido na cadeia por insurreição e assassínio, e que eles reclamavam, e entregou Jesus para o que eles pretendiam.

4ª Estação

Jesus a caminho do calvário

Narrador – Quando o conduziam, lançaram mão a um certo Simão de Cirene, que vinha do campo e colocaram-lhe a cruz em cima, para levar atrás de Jesus. Seguia-o grande massa de povo e mulheres, batiam no peito e se lamentavam por ele. Mas Jesus voltou-se para elas e disse-lhes:
Jesus – Mulheres de Jerusalém, não choreis por mim. Chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos.
Narrador – Eram levados ainda outros homens: dois malfeitores que deviam ser crucificados com Jesus.

5ª Estação

Jesus é crucificado entre dois ladrões

Narrador – E, quando chegaram ao lugar chamado Calvário, aí o crucificaram a ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia:
Jesus – Perdoa-lhes, ó Pai, pois não sabem o que fazem.
Narrador – Deitaram sortes, para repartirem entre si as vestes dele. E o povo lá estava a observar. Por seu turno os chefes diziam:
Coro – Salvou os outros: salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito.
Narrador – Também os soldados fizeram troça dele aproximaram-se para lhe oferecerem vinagre e disseram:
Coro – Se és o Rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo.
Narrador – Havia um letreiro por cima dele: «Este é o Rei dos Judeus». Entretanto, um dos malfeitores suspensos na cruz insultava-o:
Ladrão 1 – Não és tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também.
Narrador – Mas o outro interveio e repreendeu-o.
Ladrão 2 – Tu nem sequer temes a Deus, sujeito como estás ao mesmo suplício? Quanto a nós é de justiça, pois suportamos o que as nossas más acções mereciam. Mas este homem nada praticou de condenável.
Narrador – E acrescentou:
Ladrão 2 – Jesus, lembra-te de mim quando vieres com a tua realeza.
Narrador – Jesus respondeu-lhe:
Jesus – Em verdade te digo: Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso.

6ª Estação

Jesus morre

Narrador – Era já por volta do meio-dia quando as trevas se produziram em toda a região, até às três horas da tarde, porque o sol se tinha eclipsado. O véu do Templo rasgou-se ao meio e Jesus bradou com voz forte:
Jesus – Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.
Narrador – Dito isto, expirou.
Ao ver o sucedido, o centurião deu glória a Deus dizendo:
Centurião – Realmente, este homem era justo.
Narrador – E toda a multidão que tinha assistido àquele espectáculo, depois de ter visto o que se passara, regressavam batendo no peito. Lá estavam à distância todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que o acompanhavam desde a Galileia e que estavam a observar as coisas.

Reflexão

S. Lucas, nesta narração da Via-sacra, apresenta um retrato de Jesus que, mesmo no sofrimento, revela muito amor para com as pessoas e para com Deus.

Na dor, ama as pessoas

Jesus não responde a Herodes, mantendo-se sereno e respeitando a autoridade.
Jesus consola as mulheres que choram, quando ia com a cruz às costas.
Jesus perdoa aos seus inimigos que o crucificaram.
Jesus tem um gesto de amizade com o bom ladrão, prometendo-lhe o Paraíso.

Na dor, ama a Deus

Jesus, quando estava no monte das Oliveiras, antes de ser preso, rezava ao Pai.
Jesus, sereno perante os acontecimentos, parece dizer: «Confio em Deus, meu Pai. Ele está comigo».
Jesus, no momento da sua morte, voltou-se para o Pai e rezou, entregando-lhe a sua vida.

O Evangelho da Paixão garante que chegou a “hora” de Jesus: o grão de trigo tem de cair na terra e morrer para produzir frutos. A suprema decisão vai chegar. Cravado na cruz, vai proclamar a alternativa da sua religiosidade. Tentaram acabar com Ele, mas não conseguiram apagar a sua voz, nem enterrar o seu Evangelho. Antes pelo contrário, converteu-se na causa e motivação que dão sentido à vida de muitas pessoas, entre as quais nos contamos nós.
Já Ele o tinha anunciado previamente: “Ninguém Me tira a vida; sou Eu que a dou por Mim mesmo” (Jo 10, 18)

Acção de Graças

Hossana, Hossana ao Filho de David.
Bendito aquele que vem em nome do Senhor.

Alegra-te povo de Deus,
Alegrai-vos, povos do mundo inteiro.
Cantai, aplaudi e vitoriai Jesus,
O filho de Deus, o Profeta do Altíssimo.
Ele não quis aparecer revestido de poder,
Antes a sua entrada foi em cima de um jumento.
Ele não quis vir rico de dinheiro ou prepotente,
Mas de mãos abertas para servir
E o coração a transbordar de nobres sentimentos.
Ele é o Profeta de Deus, voluntário e dedicado,
O Redentor de todos os tempos.

Hossana, Hossana ao Filho de David.
Bendito aquele que vem em nome do Senhor.


Levar para casa

Hoje entramos no mistério pascal de Cristo.
Quinta-feira será o dom de si mesmo na noite, alimento que continua a alimentar a nossa vida de irmãos.
Sexta-feira contemplaremos Cristo, abandonado e morto. A sua cruz continuará a reunir a sua comunidade, sob o sinal do seu amor.
Na noite de sábado, festejamos a grande passagem de Cristo da morte à vida; passagem que continua a dar sentido às nossas festas dominicais.
Na manhã da Pascoa, será a vitória do amor sobre o ódio, da glorificação sobre a humilhação, da vida sobre a morte: é nisto que consiste o mistério pascal, que dará às nossas comunidades as verdadeiras razões de viver e de esperar.





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